Marcel Proust tornara-se num doente crónico aos trinta e poucos anos. Nada fizera da sua vida até ali, excepto acumular sintomas e cartas de autocomiseração destinadas à mãe. Contudo, não estava pronto para morrer. Confinado a um quarto, por causa da asma, aquelas quatro paredes tornaram-se no seu armário com gavetas cheias da única coisa que tinha: memória. A nostalgia transformou-se no seu bálsamo porque se a nossa vida é nómada, a nossa memória é sedentária. O seu projecto de vida, em alternativa à vida ordinária que não podia ter, era viver para sempre na sua própria memória. O seu passado iria transformar-se numa obra de arte. Proust seria um romancista. A memória seria a sua glória.
A obra maior de Proust viria a ser Em Busca do Tempo Perdido (publicada em Portugal pela Relógio d’Água, 2003). A páginas tantas escreve o seguinte: «(…) quando nada subsiste de um passado antigo, após a morte dos seres, após a destruição das coisas, apenas o cheiro e o sabor, mais frágeis, mas mais vivazes, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis, permanecem ainda por muito tempo, como almas, a fazer-se lembradas, à espera sobre a ruína de tudo o resto, a carregar sem vacilações, sobre a sua gotinha quase impalpável, o edifício imenso da memória». Proust é um teórico da memória. O seu método é espartano mas eficaz. Quase genial.
Não fosse uma Galet de Bain Verveine e eu esquecer-me-ia de Proust para sempre. Mentira. Quero eu dizer que não fosse uma Galet de Bain Verveine e eu esquecer-me-ia dela para sempre. Não sei se é miserável a memória de uma mulher fazer-se lembrada através de uma pastilha de banho mas se for, paciência. À parte disso, aquele banho foi, como diria Proust, um «prazer isolado». Uma explosão de imagens e de sensações. Uma vontade profunda, animal, primitiva, de possui-la só mais uma vez. Uma última vez. Uma vontade de lhe provar o corpo, aquele corpo com sabor a verbena. Um sabor de sempre. Um sabor único. O sabor dela. Uma vontade de me demorar naquela parte do corpo, provando-a persistentemente. Num tempo de excitação. Num tempo de pura excitação. (Não consigo desligar-me da fotografia.) Ela ali deitada, esperando-me. E eu caminhando, apressado, com o pénis duro, desejando encontrá-la. Deixo de ver. O cheiro guia-me pela noite. Apenas o cheiro. Somente o cheiro. Aquele cheiro. Aquele cheiro único. O cheiro dela. O corpo aquece, o suor escorre, o sabor intensifica-se. Provo-a obsessivamente do princípio ao fim. Do princípio ao fim. O prazer é imenso. O momento é sublime. Dois corpos em sintonia, numa espécie de dança ritmada, ao mesmo tempo displicente e vigorosa. O cheiro e o sabor potenciam o final, ou o contrário, não sei bem. O prazer jorra em magnífico, se bem que efémero, tumulto. Quase na loucura, estremecemos. Já na loucura plena, venho-me embora. Quem ama nunca mais esquece a data feliz da separação.
A obra maior de Proust viria a ser Em Busca do Tempo Perdido (publicada em Portugal pela Relógio d’Água, 2003). A páginas tantas escreve o seguinte: «(…) quando nada subsiste de um passado antigo, após a morte dos seres, após a destruição das coisas, apenas o cheiro e o sabor, mais frágeis, mas mais vivazes, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis, permanecem ainda por muito tempo, como almas, a fazer-se lembradas, à espera sobre a ruína de tudo o resto, a carregar sem vacilações, sobre a sua gotinha quase impalpável, o edifício imenso da memória». Proust é um teórico da memória. O seu método é espartano mas eficaz. Quase genial.
Não fosse uma Galet de Bain Verveine e eu esquecer-me-ia de Proust para sempre. Mentira. Quero eu dizer que não fosse uma Galet de Bain Verveine e eu esquecer-me-ia dela para sempre. Não sei se é miserável a memória de uma mulher fazer-se lembrada através de uma pastilha de banho mas se for, paciência. À parte disso, aquele banho foi, como diria Proust, um «prazer isolado». Uma explosão de imagens e de sensações. Uma vontade profunda, animal, primitiva, de possui-la só mais uma vez. Uma última vez. Uma vontade de lhe provar o corpo, aquele corpo com sabor a verbena. Um sabor de sempre. Um sabor único. O sabor dela. Uma vontade de me demorar naquela parte do corpo, provando-a persistentemente. Num tempo de excitação. Num tempo de pura excitação. (Não consigo desligar-me da fotografia.) Ela ali deitada, esperando-me. E eu caminhando, apressado, com o pénis duro, desejando encontrá-la. Deixo de ver. O cheiro guia-me pela noite. Apenas o cheiro. Somente o cheiro. Aquele cheiro. Aquele cheiro único. O cheiro dela. O corpo aquece, o suor escorre, o sabor intensifica-se. Provo-a obsessivamente do princípio ao fim. Do princípio ao fim. O prazer é imenso. O momento é sublime. Dois corpos em sintonia, numa espécie de dança ritmada, ao mesmo tempo displicente e vigorosa. O cheiro e o sabor potenciam o final, ou o contrário, não sei bem. O prazer jorra em magnífico, se bem que efémero, tumulto. Quase na loucura, estremecemos. Já na loucura plena, venho-me embora. Quem ama nunca mais esquece a data feliz da separação.
Sem comentários:
Enviar um comentário