Bem. Eu tenho quase trinta anos. E nesses quase trinta anos amei poucas mulheres. Quem diz que já amou muitas mulheres é porque tem um coração que mente. O meu não é propriamente um mentiroso mas de vez em quando lá prega as suas partidas. É claro que, quase trinta anos depois, eu já deveria saber que o coração não mente e nem sequer é o coração que se apaixona. Mas faz de conta que é. Assim é melhor.
Ao longo dos últimos anos, eu tenho lido muito sobre os múltiplos estudos que se têm produzido sobre o amor. Estudos muito interessantes em termos de desenho experimental, ou então em termos de resultados. Mas não nutro por eles qualquer simpatia. Não me interessa minimamente saber que zonas do cérebro são activadas quando nos apaixonamos, ou que moléculas químicas entram em acção. Quanto menos soubermos mais amamos. Esta demanda por uma explicação detalhada sobre as maneiras de amar irrita-me. Porque o amor não é objectivo, não se mostra com uma forma que pode depois ser fotografada à escala microscópica. Mas a mania persiste. Façam a experiência. Perguntem lá a qualquer casalinho o que um ama no outro. As respostas serão persistentemente vagas. Ou o cabelo, ou o olhar, ou a cor dos olhos, ou os peitos, ou as ancas, ou o rabo, ou porque sim. Não conseguem ir mais fundo. Acaso não existem mil mulheres com o mesmo cabelo, o mesmo olhar, a mesma cor dos olhos, os mesmos peitos (sobretudo na era do silicone), as mesmas ancas ou o mesmo rabo? Fossem estes os atributos e então estaríamos nós em permanente estado de paixão. Seria o nosso fim. Porquê aquela mulher? Porquê aquela e não outra? Porquê especificamente aquela? Porquê só aquela? Bem, muito honestamente não sei. Não faço a mínima ideia porque é que quando a vejo passar fico sem jeito, ou quando pronunciam o nome dela o meu ritmo cardíaco acelera, ou quando penso nela o meu pénis endurece. Podíamos ir pelo caminho da explicação transcendental (na verdade já me mandaram dar uma curva por eu ter a ousadia de ter nascido em Novembro e ser, imaginem só, do signo escorpião. Que patife que eu sou!) mas não chegamos a lado nenhum. Podíamos até invocar Saint-Exupéry e dizer que nos tornamos responsáveis por tudo aquilo que cativamos e que é neste processo que uma flor, entre mil flores, se torna especial. Agrada-me este caminho, sobretudo porque me agrada Saint-Exupéry. Mas também o único sítio onde chegamos é a um deserto a olhar para o céu. Há ainda os poetas mas esses ainda complicam mais. Há os filósofos mas esses começam com duas perguntas e acabam com vinte e respostas nem vê-las. Há finalmente os cientistas que testam hipóteses, inventariam mecanismos, identificam moléculas, mapeiam regiões, mas também não conseguem passar do como ao porquê. Mesmo a vox pop patina nestes terrenos. Numa casa-de-banho do CCB alguém escreveu na porta poesia autêntica: «amar sem ser amado, é como limpar o cú sem ter cagado». Lamentavelmente também não explica nada porque a técnica dos contrastes aqui não funciona e, além disso, não me parece minimamente atraente concluir que amar e ser amado é como limpar o cú depois de ter cagado (perdão pelo abuso estilístico). Portanto, parece-me que estamos condenados à não explicação.
Mas.
Eu tenho quase trinta anos. E se há coisa que me ficou marcada a ferros é que o amor nunca cede à dúvida metódica. Podem investigar, mapear, identificar, manipular, testar. O resultado será sempre uma decepção. Amar é um mistério. E como todos os mistérios, não tem solução. A todas as mulheres que me perguntaram o que eu mais gostava nelas, eu respondia sempre: tudo o que tu és ao mesmo tempo. Não precisamos de analisar. Não precisamos de objectivar. Não precisamos de racionalizar. Porque a verdade, essa sim analítica, objectiva e racional, é que nunca saberemos tudo nem nunca precisaremos de saber tudo. Não vale a pena escondermos a cabeça debaixo da areia nem fazermos birras de meninos mimados. O importante é mesmo conservarmos em nós a vontade de sermos felizes. Para sempre.
PS. O que é ser feliz? E porquê para sempre? Queremos nós realmente ser felizes para sempre? Vêem como nos lixaram bem lixados? Nunca, mas mesmo nunca saberemos tudo…
Ao longo dos últimos anos, eu tenho lido muito sobre os múltiplos estudos que se têm produzido sobre o amor. Estudos muito interessantes em termos de desenho experimental, ou então em termos de resultados. Mas não nutro por eles qualquer simpatia. Não me interessa minimamente saber que zonas do cérebro são activadas quando nos apaixonamos, ou que moléculas químicas entram em acção. Quanto menos soubermos mais amamos. Esta demanda por uma explicação detalhada sobre as maneiras de amar irrita-me. Porque o amor não é objectivo, não se mostra com uma forma que pode depois ser fotografada à escala microscópica. Mas a mania persiste. Façam a experiência. Perguntem lá a qualquer casalinho o que um ama no outro. As respostas serão persistentemente vagas. Ou o cabelo, ou o olhar, ou a cor dos olhos, ou os peitos, ou as ancas, ou o rabo, ou porque sim. Não conseguem ir mais fundo. Acaso não existem mil mulheres com o mesmo cabelo, o mesmo olhar, a mesma cor dos olhos, os mesmos peitos (sobretudo na era do silicone), as mesmas ancas ou o mesmo rabo? Fossem estes os atributos e então estaríamos nós em permanente estado de paixão. Seria o nosso fim. Porquê aquela mulher? Porquê aquela e não outra? Porquê especificamente aquela? Porquê só aquela? Bem, muito honestamente não sei. Não faço a mínima ideia porque é que quando a vejo passar fico sem jeito, ou quando pronunciam o nome dela o meu ritmo cardíaco acelera, ou quando penso nela o meu pénis endurece. Podíamos ir pelo caminho da explicação transcendental (na verdade já me mandaram dar uma curva por eu ter a ousadia de ter nascido em Novembro e ser, imaginem só, do signo escorpião. Que patife que eu sou!) mas não chegamos a lado nenhum. Podíamos até invocar Saint-Exupéry e dizer que nos tornamos responsáveis por tudo aquilo que cativamos e que é neste processo que uma flor, entre mil flores, se torna especial. Agrada-me este caminho, sobretudo porque me agrada Saint-Exupéry. Mas também o único sítio onde chegamos é a um deserto a olhar para o céu. Há ainda os poetas mas esses ainda complicam mais. Há os filósofos mas esses começam com duas perguntas e acabam com vinte e respostas nem vê-las. Há finalmente os cientistas que testam hipóteses, inventariam mecanismos, identificam moléculas, mapeiam regiões, mas também não conseguem passar do como ao porquê. Mesmo a vox pop patina nestes terrenos. Numa casa-de-banho do CCB alguém escreveu na porta poesia autêntica: «amar sem ser amado, é como limpar o cú sem ter cagado». Lamentavelmente também não explica nada porque a técnica dos contrastes aqui não funciona e, além disso, não me parece minimamente atraente concluir que amar e ser amado é como limpar o cú depois de ter cagado (perdão pelo abuso estilístico). Portanto, parece-me que estamos condenados à não explicação.
Mas.
Eu tenho quase trinta anos. E se há coisa que me ficou marcada a ferros é que o amor nunca cede à dúvida metódica. Podem investigar, mapear, identificar, manipular, testar. O resultado será sempre uma decepção. Amar é um mistério. E como todos os mistérios, não tem solução. A todas as mulheres que me perguntaram o que eu mais gostava nelas, eu respondia sempre: tudo o que tu és ao mesmo tempo. Não precisamos de analisar. Não precisamos de objectivar. Não precisamos de racionalizar. Porque a verdade, essa sim analítica, objectiva e racional, é que nunca saberemos tudo nem nunca precisaremos de saber tudo. Não vale a pena escondermos a cabeça debaixo da areia nem fazermos birras de meninos mimados. O importante é mesmo conservarmos em nós a vontade de sermos felizes. Para sempre.
PS. O que é ser feliz? E porquê para sempre? Queremos nós realmente ser felizes para sempre? Vêem como nos lixaram bem lixados? Nunca, mas mesmo nunca saberemos tudo…
Sem comentários:
Enviar um comentário